Foto da capa: Entraide et Fraternité.
Em março de 2023, defensores da terra brasileiros visitaram Bruxelas para levantar a voz sobre a violência que enfrentam nas atividades agroindustriais e de mineração e para compartilhar a importância da agroecologia em suas vidas. Entraide et Fraternité, organização membro belga da CIDSE, foi uma das apoiantes da digressão europeia.
A agroindústria e as atividades mineiras têm um impacto na vida das pessoas que dependem das suas terras, florestas e água para a sua subsistência. A comunidade de Minaçu, localizada no norte do estado de Goiás, Brasil, é uma das muitas comunidades afetadas pelas atividades de corporações transnacionais.
“Nos últimos seis anos, as comunidades enfrentaram todo tipo de violência, ameaças à vida e perda de território. Isso se deve à expansão da fronteira agrícola, do agronegócio, da mineração e de grandes hidrelétricas que não conseguem indenizar adequadamente as famílias atingidas, como é o caso da comunidade Limoeiro em Minaçu.”, explica Saulo Reis, da Comissão Pastoral da Terra.
Entre 2012 e 2021, as comunidades camponesas, os quilombolas e os povos indígenas foram privados dos seus recursos naturais e enfrentam uma violência sistémica sem precedentes. A exploração da terra e das florestas está destruindo os ecossistemas que precisam ser protegidos: o Cerrado, a Amazônia e o Pantanal.
“Existem diferentes tipos de impacto. Há o impacto dos agroquímicos, que às vezes são usados como armas químicas para expulsar famílias do seu território ou para dificultar a produção das comunidades camponesas, porque não conseguem produzir sem veneno, dada a forma como são geridas as grandes plantações. Tem também o impacto da mineração, que é a lei da gravidade, como já vimos em Brumadinho e Mariana”, acrescenta Reis.
A comunidade encontrou na agroecologia uma oportunidade para continuar seu trabalho e crescimento.
“A importância da agroecologia é o que ela faz pelo meio ambiente. Faz bem para a saúde, faz bem para quem trabalha com isso. Trabalhar na lavoura convencional é muito diferente de trabalhar na lavoura agroecológica”, diz Maria Moreira Da Silva, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, “porque é muito diferente trabalhar na agricultura convencional e trabalhar na agricultura ecológica; a energia é diferente. Então, é sobre a importância da nossa resistência e de mostrar porque queremos essa terra, o que a diferencia dos demais tipos de agronegócio. Isso é muito importante para nós”.
Mas algumas propostas políticas também podem ameaçar a agroecologia. Por exemplo, se um acordo entre a União Europeia e o MERCOSUL for ratificado, é mais provável que estas famílias vejam mais desflorestação, apropriação de terras e ataques aos direitos dos agricultores.
“Elas (as transnacionais) não se importam como isso é feito, quantos rios secam, quantos incêndios provocam na floresta ou quantas pessoas são envenenadas. Nada disso importa para eles. E é isso que os governos têm de começar a ver, têm de começar a pôr fim a isto. Porque se não for interrompido, se não houver como pará-lo, onde iremos parar?”, reflete Maria.
Informações adicionais
- "Brasil, la terre, c'est la vie”, Juste Terre N°198, Entraide et Fraternité, março de 2023
- "No Brasil e na Europa, os movimentos sociais enfrentam violências”, Documento de Política, Entraide et Fraternité, outubro de 2023