Uma história de como as comunidades locais em Portugal lutam contra a exploração das suas terras por grandes corporações
Neste blog, compartilhamos com você 'Novos contos da Serra do Barroso', situado na região do Barroso, no Norte de Portugal. Os contos são escritos por Mariana Riquito & João da Montanha para divulgar ainda mais a luta e as vozes da comunidade local em torno do(s) conflito(s) em curso sobre possíveis minas de lítio na região.
Em todo o mundo, as empresas transnacionais estão envolvidas na mineração em grande escala em nome do crescimento económico. Alguns dos impactos devastadores das actividades mineiras incluem a degradação ambiental, a poluição da água, do solo e do ar, as violações dos direitos humanos e o encerramento de espaços democráticos, e a criminalização e repressão da resistência por parte das comunidades afectadas. Apesar dos numerosos acordos comerciais e de investimento em vigor para proteger os investimentos das empresas estrangeiras, nenhum instrumento internacional vinculativo consegue implicar as empresas nas violações dos direitos humanos infligidas pelas perigosas actividades mineiras. Entretanto, as tentativas das comunidades de responsabilizar as empresas continuam a resultar em ameaças, repressão, violência e até morte.
Para o objectivo de crescimento e desenvolvimento económico ilimitados, justificou-se a utilização de energias e recursos poluentes, a extracção massiva, o consumo excessivo dos recursos da Terra e a utilização excessiva dos nossos solos e ecossistemas. E as comunidades locais pagaram o preço por não terem qualquer palavra a dizer sobre o que acontece nas suas próprias terras.
Trecho de outro artigo de Mariana Riquito “Dizer não à expansão energética da modernidade capitalista: mobilizações e alternativas a partir das montanhas do Barroso.”*
Dentro desse contexto, o novas histórias sobre a Serra do Barroso mostrar a vida das pessoas que vivem nesta região e que sofrem ameaças de empresas de exploração mineira na Serra do Barroso, no norte de Portugal, e como as comunidades são impedidas de decidir sobre o que se passa nas suas próprias terras, sendo vítimas da destruição e poluição causadas pela mineração empresas. Em todo o mundo, as comunidades afetadas resistem às indústrias mineiras e extrativas nos seus territórios.
Os contos contam a história da ação dessas pequenas comunidades, lutando por suas terras e resistindo:
“A defesa deste pequeno terreno tornou-se assim um símbolo da luta popular. Este plano de defesa contou com o apoio de muitas outras pessoas solidárias com o território de Barroso: logo nos primeiros dias foi feito um apelo a Covas para se mobilizar, que foi recebido com entusiasmo; houve também uma caravana anti-mineração, que passou pelas diferentes aldeias do Barroso ameaçadas pela mineração, culminando em Covas, que reuniu duzentas viaturas e pessoas. A forte solidariedade entre todas as montanhas e não só tem ajudado a consolidar o processo de vigilância, não permitindo que as populações se sintam sós e isoladas, como a empresa e o Estado querem fazer parecer.”
Embora a transição verde seja essencial para a saúde do nosso planeta e para garantir um futuro para a humanidade, deve ser implementada de uma forma que não prejudique as pessoas e o planeta. Precisamos de uma transição social, verde e justa, através da qual as comunidades locais não sejam vítimas da apropriação de terras e os direitos humanos prevaleçam.
“Nos últimos seis anos, estas populações e as suas montanhas resistiram firmemente, formando associações e coletivos; participar de assembleias municipais; organizando-se em assembleias de meeiros; criação de canais de comunicação e compartilhamento de informações; elaboração de mapas e relatórios; organização de manifestações e protestos; participar de eventos acadêmicos e culturais; escrever e falar para diversos meios de comunicação e plataformas acadêmicas; mobilizar centenas de pessoas para participarem em consultas públicas; tomar medidas legais em todas as etapas dos processos administrativos; organização de acampamentos e residências artísticas; realização de bloqueios e boicotes a representantes estaduais; bloqueando máquinas e impedindo a empresa de avançar no terreno. A população de Barroso sabe que esta não é (apenas) uma luta local e sabe que não está sozinha.”
A Direito de dizer não**é o direito de uma comunidade dizer “Não” aos projectos extractivos e dizer “Sim” ao modo de vida que escolheu, e reivindicar soberania, controlo, gestão e poder de decisão sobre as suas terras e territórios. As comunidades da Serra do Barroso dependem da agricultura para viver e, com a exploração das empresas mineiras, ficarão sem meios de sobrevivência.
As histórias mostram que a actual procura de minerais não está apenas a ameaçar comunidades e áreas de biodiversidade na América Latina, Ásia ou África, mas também na Europa. Os projectos mineiros, como neste caso em Portugal, estão a violar os direitos democráticos das comunidades de decidirem sobre o futuro das suas vidas e terras e são confrontados com a destruição e poluição das suas terras e a criminalização dos seus líderes sociais. As políticas da UE em matéria de matérias-primas apenas agravarão estas violações, pois facilitarão a mineração de uma forma devastadora.
“Sem o compromisso de considerar os direitos humanos e sociais e o ambiente para enfrentar o lado da procura desses materiais, e sem metas ambiciosas de reciclagem e circularidade, uma corrida desenfreada para extrair mais matérias-primas terá impactos desastrosos nas pessoas e no planeta. As comunidades locais em todo o mundo suportarão o fardo desta “nova” corrida da UE pelos recursos.»
Wies Willems (Broederlijk Delen) e Kim Claes (ex-CIDSE) em seus artigo de opinião 'Mais mineração na Europa? Existem alternativas também'.
A CIDSE fez parte do Coalizão CSO sobre matérias-primas desde o início – uma coligação criada em resposta à crescente procura de metais que são fundamentais para inaugurar as transições verde e digital a nível mundial. Há uma clara necessidade de coordenação entre as OSC que trabalham nas questões das políticas de matérias-primas da UE, para unir forças e partilhar conhecimentos.
"Juntamente com os seus membros e parceiros, a CIDSE luta pelo 'Direito de Dizer Não' das comunidades locais aos projectos extractivos Verdes e à impunidade corporativa."
Wies Willems (Broederlijk Delen) e Kim Claes (ex-CIDSE) em seus artigo de opinião 'Mais mineração na Europa? Existem alternativas também'.
* Texto original: "Os atuais níveis de gestão socioecológica são, pois, consequência de uma narrativa sobre o mundo e de um sistema socioeconómico hegemónico, que converteram a nossa casa-Terra num mero 'recurso' a ser explorado. "
**Você pode ler mais sobre o Direito de Dizer Não aqui, fonte Mulher.
Créditos das fotos: Mariana Riquito e João Veloso. As fotos foram tiradas na região da Serra do Barroso e Covas do Barroso durante manifestações em defesa das comunidades locais.