Grandes esperanças, baixas expectativas para a Rio + 20 - CIDSE

Grandes esperanças, baixas expectativas para a Rio + 20

Em 1992, uma menina de um ano do 13 pediu aos líderes mundiais presentes na Cúpula da Terra do Rio de Janeiro que parassem de quebrar o planeta, se não pudessem consertá-lo. Vinte anos depois, os líderes se reúnem novamente no Rio para discutir medidas para tornar nosso mundo mais sustentável, mas, infelizmente, houve muita quebra e pouca correção nesse meio tempo.

Vimos tentativas tímidas dos políticos de consertar as coisas, de enfrentar juntos os desafios globais, como pobreza e mudança climática. Entretanto, nossa economia global movida a carbono avançou, aumentando o bem-estar material para alguns, mas também alimentando desigualdades econômicas, ambientais e sociais. As mudanças climáticas, que colocam enormes desafios para algumas das comunidades mais pobres do mundo, que enfrentam condições climáticas cada vez mais extremas, são um exemplo óbvio. A exploração de recursos naturais, que deixa as pessoas de alguns dos países mais ricos em recursos do mundo, muito pobres, é outra.

Nossa delegação de líderes da igreja e da sociedade civil na Rio + 20 tem uma mensagem clara. Devemos garantir que todos os seres humanos possam viver uma vida digna e em harmonia com a criação. Isso requer mudanças fundamentais em nosso modelo econômico, com sua veneração por crescimento e lucro. Em vez disso, vamos nos concentrar no bem comum, com atenção especial às necessidades dos mais pobres e vulneráveis.

Os líderes mundiais devem traçar um novo caminho para uma sociedade sustentável, justa e humana. Isso envolve muito mais do que as imagens clichê de painéis solares, moinhos de vento e ferramentas de eficiência energética, que estavam por todo o lado na preparação para o Rio + 20.

O desenvolvimento sustentável também envolve negócios e finanças saudáveis, por exemplo. Com demasiada frequência, as empresas deixam de respeitar os direitos humanos das comunidades locais nas áreas em que estão operando, particularmente no setor das indústrias extrativas. O setor financeiro também poderia fazer muito mais em benefício das pessoas e do planeta, por exemplo, contribuindo para os desafios globais de desenvolvimento por meio de um pequeno imposto sobre transações financeiras. O acesso ao trabalho decente e à igualdade de direitos para mulheres e homens também fazem parte de um mundo mais sustentável.

O Rio + 20 deve discutir soluções reais, não apenas ajustes que nos permitirão continuar consumindo e produzindo insustentáveis. Devemos nos afastar do materialismo e investir mais no autêntico desenvolvimento humano e bem-estar da comunidade. Isso também significa que devemos não apenas medir o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), mas também o que importa; como reduções na pobreza e desigualdade, qualidade do ambiente e tecido social, por exemplo.

Como agências de desenvolvimento católicas, pedimos aos líderes mundiais que consertem as coisas, mas também estamos prontos para fazer a nossa parte. De fato, a Rio + 20 é mais do que uma passarela para ministros e altos funcionários. A Cúpula dos Povos reúne organizações da sociedade civil e movimentos sociais de todo o mundo para discutir soluções alternativas. Olhar para as coalizões coloridas de organizações prontas para desafiar o pensamento umas das outras e apresentar soluções ousadas é encorajador. Os países em negociação devem se sentir incentivados a seguir o bom exemplo e colocar o interesse comum antes dos nacionais.

O mundo está assistindo a Rio + 20 esta semana, mas no Rio a maioria dos observadores está cética em relação a um resultado ambicioso. As negociações multilaterais são uma batalha palavra por palavra e os países desenvolvidos e em desenvolvimento não estão de olho em algumas questões cruciais da agenda. Por exemplo, os países em desenvolvimento que acabaram de começar a desfrutar do desenvolvimento econômico relutam em apoiar medidas que dificultariam suas taxas de crescimento e olharão os principais emissores do mundo para liderar esforços. Todos devem fazer do nosso futuro comum a principal prioridade, mas, embora todos façam a sua parte, são os ombros mais fortes que devem suportar o fardo mais pesado.

O Rio + 20 começa com grandes esperanças e baixas expectativas, que esperamos que sejam superadas.

Por Roeland Scholtalbers, diretor de mídia e comunicação do CIDSE, do Rio de Janeiro

Mais sobre o CIDSE na Rio + 20? www.cidse.org/rioplus20

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